A tecnologia invadiu a cozinha e assim como em outras áreas acabou seduzindo profissionais e amadores. Hoje as conversas são sobre vácuo, emulsificador, Paco Jet, etc. Mas não podemos esquecer que o objeto mais importante na cozinha sempre foi e ainda é a faca.
Na minha escola todos os alunos ganharam um kit cozinha com tudo que precisavam, mas logo os professores falaram que deveríamos investir numa faca de chefe melhor. Ela deve ser feita com uma mistura especial de aço carbono resistente `a ferrugem e corrosão, do tamanho adequado e bem equilibrada para que seja como uma extensão da mão de quem a usa. Alguns dias depois lá estavam os alunos exibindo seus objetos cortantes, conversando a respeito, comparando e testando os diferentes modelos e marcas: Global, Wusthof, Henckels, Misono, Mac, etc. Quanto melhor a faca mais promissor o chefe.
Eu sofri porque meu namorado na época me deu uma faca da empresa onde trabalhava que foi odiada pelos meus colegas e professores. Praticamente todo dia eles olhavam pra minha mão, sacudiam a cabeça, faziam um muxoxo e falavam para eu comprar outra. Foi o que aconteceu quando troquei de namorado. Sabendo do meu sofrimento ele fez questão de me dar uma japonesa, pequena, adequada para o tamanho da minha mão, muito ergométrica e afiada. Essa sim, que sucesso fazia! Até no hotel suíço ela impressionou. Acostumados a receber estagiários de hotelaria que precisam também passar pela cozinha mas que não são chefes, os cozinheiros não botaram a menor fé quando cheguei, mas passaram a me olhar com outros olhos quando viram e testaram minha amiga japonesa. Claro que não basta ter, tem que saber usar. Descobri que estavam apreciando meu trabalho quando começaram a pedir a minha faca emprestada.
Anos depois viajando com outro namorado resolvi investir num novo modelo. Já no hotel, abri a caixinha preta, passei a lâmina levemente numa sacola plástica e admirei... Que corte! O empresário bem sucedido e inteligente, com quem eu estava se interessou. Arrogantemente, pegou-a da minha mão falando que me mostraria como se testa o corte de uma faca. Com a outra mão segurou firmemente uma folha de papel entre os dedos e passou a golpeá-la, cortando tiras. Empolgado com seu desempenho, continuava, sem se preocupar com a forma diminuta que o papel tomava, tornando cada vez mais curta a distância entre as facadas e seus dedos... até que um pedaço deles caísse no chão! Inacreditável! Corremos para o hospital levando a ponta do dedo decapitado, que, para meu alívio, foi recolocada e costurada com sucesso.
Algumas pessoas têm medo de facas boas e afiadas. O que não sabem é do perigo de usar faca cega, leve demais e que não se adapta bem `a mão de quem a usa. Pois o mais importante na hora de cortar é manter o controle do movimento, sem precisar usar muita força.
Na cozinha é preciso ter o equipamento certo, mas de nada adianta ter o melhor equipamento sem o conhecimento e seriedade para usá-lo. Isso serve para uma simples faca ou para tecnologias a la Adriá.
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