Palmito

Não sei se o problema é o que as faculdades estão ensinando por aí ou se são os alunos que andam muito dispersos e entendem tudo errado. Outro dia uma estagiária ficou revoltada ao ter que preparar uma salada com palmito pupunha fresco. Disse que aquilo mataria os clientes do restaurante! Se fosse assim eu deveria estar bem morta, afinal como palmito cru desde pequena. O único mal estar que isso me provocou foi descobrir, anos mais tarde, que aquele palmito que eu comia quando criança se chama Juçara e que sua extração destrói a natureza.
Explorado intensamente a partir da década de 70, o palmito Juçara encontra-se hoje sob o risco de extinção. A exploração predatória tem avançado no país e quase todo o palmito Juçara comercializado e exportado pelo Brasil atualmente é ilegal.
O corte ilegal é feito geralmente dentro das Unidades de Conservação (Parques Estaduais, Nacionais, Estações Ecológicas). Os palmiteiros são contratados em regiões pobres, como as cidades do Vale do Ribeira, sul de São Paulo, região de Guaraqueçaba e litoral paranaense. À noite eles entram na mata, cortam e carregam feixes de até 50 palmitos. Cada feixe representa uma árvore morta que precisou de mais de 10 anos para crescer. Um palmiteiro pode cortar até 200 palmeiras por dia! Para piorar essas pessoas ainda abrem trilhas devastando a vegetação, abatem animais silvestres e cortam árvores de palmito muito pequenas, impedindo assim a regeneração natural das florestas. Sabemos que as consequências são graves pois sem a Juçara muitos animais podem desaparecer, pois várias espécies de aves e mamíferos dependem dos frutos do palmito para sobreviver. Em alguns locais onde o palmito foi dizimado já se notar a ausência da fauna.
Atualmente existe uma guerra entre os palmiteiros e os guardas-parques em todo o Brasil. Os palmiteiros estão fortemente armados e mobilizados para extrair todo palmito possível da Mata Atlântica. Alguns guardas já foram mortos. O corte do palmito está se tornando tão organizado quanto o tráfico de drogas. Sabemos hoje que os palmiteiros possuem rádios, armas e transporte mais eficientes que os guardas.
Como se a ilegalidade e a destruição da natureza não bastasse, saiba que consumir esses palmitos também pode colocar sua saúde em risco: você pode contrair botulismo e até morrer. Para fazer o palmito em conserva os palmitos são cortados dentro da mata e cozidos na hora sob péssimas condições de higiene. Depois os palmitos são envazados e transportados para fábricas clandestinas onde recebem vidros e rótulos falsificados. Algumas marcas possuem nomes "ecológicos" para iludir o consumidor.
Praticamente todo palmito, com exceção da pupunha, que chega à sua mesa vêm da extração predatória da natureza. Então sugiro que comamos apenas palmito pupunha, que é uma delícia e não faz mal nenhum à saúde, à consciência ou à natureza, tanto cozido como cru. Essas sim, são informações que nossos universitários deveriam saber.

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