Nacionalismo Gastronômico

Acho ótimo valorizarmos nosso país, nossa cultura e gastronomia, mas às vezes esse nacionalismo gastronômico, tão em voga hoje em dia, acaba me irritando! Quando qualquer coisa está tão na moda que vira um "must" (quer expressão mais irritante que essa?) se torna uma chatice! Acho uma bobagem a importância que se tem dado para pessoas que colocam qualquer ingrediente brasileiro em qualquer receita e de qualquer jeito.
A última que li foi de um fulano que resolveu fazer gazpacho brasileiro trocando o tomate pela goiaba, o pepino pelo maxixe e o pimentão pela pimenta-cambuci. Não entendo, o gazpacho é uma delícia do jeito que é. Quer fazer sopa de goiaba, tudo bem, inventa a sua sopa! Se ela for boa entrará para a história e será reproduzida no mundo todo por muito tempo, como o gazpacho.
Gosto de muitas receitas brasileiras autênticas e não tenho nada contra invencionices também, desde que funcionem. Aprecio diversos ingredientes brasileiros e até acho interessante as pesquisas e experiências que tem sido feitas. O que não dá pra aguentar é a falta de conteúdo, o excesso de marketing e o fato do politicamente correto aliado ao ufanismo ter invadido a gastronomia. Comida tem que ser gostosa em primeiro lugar. Tanto faz se o ingrediente é originário do Brasil ou de outro lugar, se a receita é brasileira ou francesa, o importante é se você gosta ou não. O gosto é pessoal e depende da história de vida de cada um. Por isso me pergunto o que é gastronomia brasileira se nosso país é formado por imigrantes de diversas partes do mundo? E se não é forçar a barra querer que eu coma maxixe agora, se o que sempre comi foi pepino? E ainda, porque o maxixe é considerado mais brasileiro do que o pepino, se nenhum dos dois é originário do Brasil?
Para dissipar todas essas dúvidas só devorando essa sobremesa da foto! A receita mistura nossas deliciosas frutas tropicais (manga em geléia de maracujá) com o refinamento da estrangeira framboesa na forma de coulis e a maravilhosa invenção francesa: o creme chantilly! Viva a globalização!

No comments: